quarta-feira, outubro 31, 2007

Alcagüete

Sophia tem um caderninho onde as educadoras sempre mandam notícias do dia dela na escola, dizendo se comeu bem, quantas vezes fez xixi ou cocô, do que brincou, etc. Um dia desses chega a seguinte mensagem no caderninho: "Durante uma discussão um coleguinha mordeu a perna da Sophia. Conversamos e ficou tudo bem".

A escolha da palavra "coleguinha" é, claramente, uma forma de preservar a identidade da outra criança, evitando que os pais criem birra, reclamem com os outros pai e coisas do gênero, mesmo sabendo que mordidas e tapas são comuns entre crianças dessa idade.

Ao ler aquilo, perguntei logo à Sophia "morderam a perna da Sophia?" Ela então acena positivamente com a cabeça e responde na bucha, estragando o segredo bem guardado pelas educadoras: "Mordeu. Não pode, Ana, não pode".

Ah, como é bom criar uma dedo-duro em casa.




Direto na têmpora: Quizás, quizás, quizás - Nat King Cole

terça-feira, outubro 30, 2007

Quase voltando atrás

Não é segredo para ninguém a minha paixão pelas semanas de 4 dias como essa. Quando o feriado cai na sexta, então, parece que um pedaço de perfeição se instala nos meus dias (perdoem a veadagem, mas é só pra vocês terem noção de como eu gosto de trabalhar 4 dias e folgar 3 numa semana).

Pois bem, com o lance das aulas, um freela de roteiro, outro de site, trabalhando momentaneamente como único redator da agência, reuniões sobre projetos com o Roger e ainda com o Fargas, fora o Pastelzinho e os afazeres domésticos eu juro que cheguei a querer que a sexta fosse um dia útil.

Aí eu respirei fundo e pronto, passou.




Direto na têmpora: Música serve pra isso - Os Mulheres Negras

segunda-feira, outubro 29, 2007

Homens que guardam dinheiro debaixo do colchão

Admire sempre um homem que guarda dinheiro debaixo do colchão. Homens assim não confiam em instituições, riem da segurança em que os outros acreditam, acham que o de valor se deve ter sob os olhos. São raros esses homens que guardam dinheiro debaixo do colchão.

Um homem que guarda dinheiro debaixo do colchão acredita na inviolabilidade do lar e faz da cama seu sacrossanto espaço, onde o repouso é também vigília. Um homem assim não se entrega ao novo, sem mais nem menos, e respeita antes o que já conhece. Prezam a casa e a família esses homens que guardam dinheiro debaixo do colchão.

Um homem que guarda dinheiro debaixo do colchão não tem cheques ou cartões de crédito, não compra quotas ou abre crediários, não sabe de juros e nem se importa com a bolsa de valores ou com as moedas estrangeiras. Ignoram as páginas de economia esses homens que guardam dinheiro debaixo do colchão.

Admire sempre um homem que guarda dinheiro debaixo do colchão.


PS – O Zeitgeist, novo cd do Smashing Pumpkins, é muuuiitooo booomm. Baixe, compre, vá ao show, rapte o Billy Corgan, não importa. Quem gosta tem que ouvir e celebrar a volta dos bons tempos.




Direto na têmpora: Tarantula – Smashing Pumpkins

sexta-feira, outubro 26, 2007

Taí, reparei na mocidade

Semana passada estive em São Paulo e nem comentei aqui que o Museu da Língua Portuguesa é uma das coisas mais bacanas que existem por esse terrão chamado Brasil. Não só as instalações, a tecnologia ou os textos, mas a beleza que é acompanhar jovens e crianças ouvindo pela primeira vez "Quatrilha" de Carlos Drummond de Andrade e se encantando de rir às altas com o poema. Vale qualquer ingresso.

Em uma história relacionada, ontem fui professor pela primeira vez. Serã pouco mais de 2 meses na Estácio de Sá, substituindo Renata Feldman nas aulas noturnas de redação publicitária para o 4o período. Posso dizer que gostei do magistério. Agora, é saber se ele também gostou de mim e deixar essa porta aberta pra ver o que dela sai ou, tanto melhor, o que nela entra.




Direto na têmpora: A menina gorda (poema de Ribeiro Couto, que aqui eu não ouço só música não, ó, pá) - João Villaret

quinta-feira, outubro 25, 2007

Street Fighter Later Years

Como estariam os personagens do Street Fighter hoje? Vou postar aqui o primeiro filme e quem quiser ver os outros 4, é só clicar nos links abaixo. Explicando em uma palavra apenas: putaqueopariubompracaralhoracheiderir.


O reinício da saga.

Street Fighter Later Years 2

Street Fighter Later Years 3

Street Fighter Later Years 4

Street Fighter Later Years 5

A saga continua e é bom ficar de olho no College Humor pra achar as atualizações de vem em quando.




Direto na têmpora: I'm so bad (Baby I don't care) – Motörhead

Encalhe em dose máxima

As cenas que vocês verão a seguir são chocantes, mas reais. Ocorridas no casamento de um amigo (e de uma amiga), as fotos mostram o grau de desespero a que chegam mulheres solteiras com mais de 30 anos. Notem que, no embate entre Coréia e Suécia, a agilidade venceu a força.


Musculatura contraída, olhares fixos, o sorriso mal disfarça a ansiedade.





O bouquet é coreano, mas os suecos não desistem facilmente.





A agilidade coreana bate a força sueca. É tombo, meu nêgo.




Direto na têmpora: Stable song – Death Cab for Cutie

quarta-feira, outubro 24, 2007

Voar é para os pássaros

Ontem, 3 horas e meia de atraso com chegada em Guarulhos e traslado de ônibus até Congonhas. Hoje, aeroporto que abre e fecha de tempos em tempos e sem nenhuma previsão da hora de saída pra BH. Pelo menos o curso foi bom pra caramba. Amanhã eu posto direito amiguinhos, se Deus quiser.




Direto na têmpora: Fidjo Maguado - Cesaria Evora

terça-feira, outubro 23, 2007

Topa-tudo

Esse argentino é um dos homens mais corajosos que conheço. Saca a matéria.

Lua-de-mel levou à morte de idosa de 82, diz viúvo

O marido da argentina de 82 anos, que morreu ontem em Santa Fé, disse em entrevista à rádio FM Latina que os dois tiveram uma "lua-de-mel de loucos e por isso ela está onde está". "A lua-de-mel foi muito linda e ela aproveitou muito, isso é o que importa", afirmou Reinaldo Wavegche, segundo site do jornal Diario Uno.



O assassino sexual e sua feliz vítima.




Direto na têmpora:Wond'ring aloud - Jethro Tull

Sodade pouca

Ainda há em mim um pouco do homem que fui. Um sonho ou outro esquecido, um sim que passou do ponto, uma perda mais dura aqui, um remorso mais forte ali e ainda assim há em mim algo do velho rapaz que fui.

O camping no barro com chuva em cima e rock and roll ao fundo, as 38 horas no ônibus com mais cerveja do que bagagem e um novo roteiro, distante, se fazendo diário, por cidades desconhecidas com gentes que nunca vi. Esse sou eu que passei.

Às vezes sinto saudades, outras me rio dele, esse velho rapaz que nunca soube quem era. Boa parte dele talvez tenha ficado em uma praia, em um copo de cachaça, em um não mal recebido. Não sei, de verdade, não sei. Mas ainda há um pouco dele aqui em mim, perto dos olhos, que me faz enxergar em um segundo as coisas como deveriam ser. E que às vezes escapa, desliza em uma lágrima e assim eu me torno um pouco menos.




Direto na têmpora: Join the club - Reel Big Fish

segunda-feira, outubro 22, 2007

Rubinagem de domingo

Até que a carreira dele prove o contrário (e pode muito bem provar) o Lewis Hamilton acaba de ser promovido ao posto de segundo maior rubinador da F1, atrás apenas do Rubinho em si. Duas corridas, duas cagadas e o título cai no colo do Raikkonen. Pelo menos o Alonso perdeu.


PS - Eu não sou fã de F1, nunca fui, nem na época do Piquet, mas que a final desse ano foi emocionante, foi.




Direto na têmpora: Foolin' - Def Leppard

sexta-feira, outubro 19, 2007

Orelhinhas de Mickey

O cabelo de Sophia está gigante (inclusive vai cortar amanhã), o que permite uma gama de penteados como, por exemplo, esse de orelhinhas de Mickey. Como ela é louca pela Minnie, fica de ótimo tamanho.


Ladies and gentleman, the new Minnie.




Direto na têmpora: Pilgrim's Chorus - Richard Wagner

Funk da Tropa

Pra quem já viu o filme deve ser mais interessante, mas o Kibe Loco já soltou o funk do Tropa de Elite, com direito a linha de baixo de Seven Nation Army, do White Stripes. Eu achei legal.


MC Nascimento comanda o baile




Direto na têmpora: Tabu - Fellini

quinta-feira, outubro 18, 2007

Minha Sophia

E aí estão, pra quem reclama, fotos recentes da Sophia.


Minha Sophia e o olhar mais doce do mundo.




Nada como botar a pantufa de coelhinhos e ler os clássicos.




Direto na têmpora: Song for Bob Dylan - David Bowie

Tietagem

Estive ontem em São Paulo, na Fenatran 2007, para acompanhar o estande da Iveco e fazer um benchmark. Tudo muito legal, um grande sucesso, mas o chato mesmo é a tietagem. Abaixo vocês verão o momento em que eu, tranqüilamente tirando uma foto, sou abordado por uma fã afoita em busca de memórias ao meu lado. Na segunda foto não é difícil notar minha expressão contrariada diante do assédio. Simplesmente triste.


Em frente ao Iveco Stralis, segundos antes de ser abordado pela tiete inconveniente.



O instante do ataque. Sai de mim, Ellen Roche, que eu sou (muito bem) casado.




Direto na têmpora: Underwater Love - Faith No More

quarta-feira, outubro 17, 2007

Conversinha

O Poodle da Tasmânia tem uma mania assaz peculiar. É só passar uma mulher gostosa por perto que ele anuncia: "aquela ali eu já peguei", para a descrença de todos ao redor.

Certo dia, caminhava o pequeno meliante ao lado de um amigo redator (não eu, juro), quando uma beldade vem em sentido oposto. O Poodle se prepara para dizer algo quando o amigo interrompe incrédulo "vai dizer que você já pegou essa aí?"

No que nosso coleguinha responde humilde: "pegar eu não peguei, mas que eu já vi de biquini, já".




Direto na têmpora (ou melhor, na memória, já que a bateria do ipod acabou ainda no vôo de vinda): Brilha, brilha, estrelinha - Vila Sésamo

terça-feira, outubro 16, 2007

Outra coisa

Meio da tarde do feriado, Sophia começa uma birra:

"Bico, mamãe, bico."

Fernanda então responde "ah, não Sophia, bico não, pede outra coisa". E ela, ainda chorando:

"Ôta coisa, mamãe, ôta coisa."




Direto na têmpora: Them Changes - Bobby McFerrin

segunda-feira, outubro 15, 2007

Café

Eu queria tomar café. De quem gosta de cigarro não tenho inveja, nem de quem gosta de frango ou de feijão, mas das coisas que eu não gosto, café é a que eu tinha vontade de gostar.

Por exemplo, “vamos tomar um cafezinho” nunca quer dizer “vamos tomar um cafezinho” pra mim. Quer dizer “vamos bater um papo”, “vamos sentar ali um pouquinho”, “vamos dar uma pausa”, enfim, tudo menos “vamos tomar um cafezinho”.

Eu nunca aceito um cafezinho e a conta, eu nunca tomo um “pingado”, eu raspo o café de cima do tiramissú, eu usei canequinha esmaltada pouquíssimas vezes, eu escolho cuidadosamente as balinhas de troco pra não de pegar as de café. Pra ficar acordado até mais tarde, tem que ter outra receita. Quando o Chico Buarque canta “e me beija com a boca de café" eu até entendo a letra, mas só na teoria. No frio eu tenho que tomar é cachaça. E o pior, é que eu simplesmente adoro o cheiro de café.

Hoje eu queria muito mesmo gostar de café.




Direto na têmpora: Every little thing she does is magic – The Police

quinta-feira, outubro 11, 2007

Cuméquié?

A foto abaixo foi tirada hoje às 8h45, em frente ao BH Shopping. Ela não foi tratada e nem retocada. Primeio eu li o texto normalmente e achei apenas ruim.

Depois, reparei no texto em branco e aí surgiu o brilhantismo da peça: meta sempre! Note que o "s" de "metas" está em amarelo, deixando clara a mensagem: META SEMPRE ou, em bom inglês, FURUNFE ALL THE TIME.

Não sei que agência fez a campanha, muito menos quem foi o criativo, mas poucas vezes na minha vida eu vi algo tão grotesco e de mau gosto. Adorei.






Direto na têmpora: Fire - Soulfly

quarta-feira, outubro 10, 2007

Bombado

Textinho bombado de um projeto que acabou vingando e que logo, espero, anunciarei aqui.

"O telefone da menina na mão, conseguido de uma colega. Na tela do computador, uma foto (linda, linda) em sua página do Orkut e o endereço pronto pra ser adicionado ao meu MSN. Posso ligar, posso mandar um email, uma mensagem, deixar um scrap, enviar um SMS, caramba, posso até pegar o endereço e parar na porta da casa dela, tocando o interfone com as palmas das mãos suadas ou fazendo uma serenata.

Na mesma página do Orkut fiquei sabendo que ela não tem mais namorado. Tá muito fácil. Na última festa a gente até conversou um pouquinho e ela sorriu. Por um instante esqueci que tenho quase 30 e gaguejei. Tudo muito fácil? E eu? Cadê a porta de saída pra isso tudo que eu quero falar?

Aqui, na frente do computador, a coisa não simplifica. Não sei o que teclar sem parecer afoito, não sei o que falar sem parecer bobo, não sei nem que personagem criar pra ela me achar bacana. O espaço em branco do email a escrever, o cursor piscando, o endereço dela no “To:” e o meu nome no “From:”, tudo isso me chama de imbecil. Falta começo, meio e fim.

Largo tudo, entro no site do banco e resolvo umas pendências, saldos, contas, investimentos. Tudo ali. Acesso fácil. É nessa hora que me lembro do rosto dela e pronto! Lá se foi a senha, lá se foram os cálculos, lá se foram os planos.

Melhor me reiniciar."





Direto na têmpora: The Crawl - Placebo

O mártir

Não tenho seguido a novela Duas Caras, mas já descobri qual o personagem mais sofredor do folhetim: Herson Capri. Pra começar, o cara é casado com a Suzana Vieira, um motivo de suicídio dos mais aceitáveis mundialmente. Como se a dor não fosse grande o suficiente, ele resolve arrumar uma amante e escolhe quem? Renata Sorrah!!!! Se fosse na vida real esse cara já tinha metido uma bala nos cornos há muito tempo.

Ah, essas novelas...




Direto na têmpora: Daylight - Coldplay

terça-feira, outubro 09, 2007

Contos de fodas

O reizinho era cheio de vontades. Pedia uma coisa de manhã, à tarde mudava de idéia, de noite já pensava outra coisa. E ai de quem não atendesse seus pedidos. Levava bronquinha e ficava sem jantar. O reizinho era terrível. Outro problema era que o reizinho tinha alergia à palavra não. Se alguém o contrariava, ficava vermelho e já começava a reclamar, a esbravejar. O reizinho adorava mostrar quem manda.

Mas o pior é que em volta do reizinho tinha um monte de bobinhos da corte que adoravam tudo o que ele fazia. Não só acatavam todos os caprichos, mas também repetiam o exemplo com os outros membros da corte, exigindo tudo para agora, fazendo birrinhas, batendo o pé e mudando de idéia a toda hora sem motivo nenhum que não fosse o próprio umbiguinho.

Tudo ficção, claro, tudo conto de fadas, mas agora eu pergunto: alguém aí também já andou prestando serviços pra esse reino?




Direto na têmpora: Adição Subtração – Trio Soneca

Buffet liberado

Em 2004 eu era assim. Come mais, desgraçado!



Com a cabeça a prêmio e sem barriga.


A mesma verborragia, mas com muito menos volume.




Direto na têmpora: Holiday - Scorpions

Emendas e sonetos

O Paulo Silva disse hoje uma frase simplesmente sensacional: “o pior cliente é aquele com tempo”. E o pior é que essa verdade absoluta se aplica perfeitamente às mais diversas áreas do convívio humano.

Tempo para pensar depois da obra criada é tempo para a mente criar dúvidas, inventar problemas, confundir o simples. Na publicidade, por exemplo, não falha nunca: quanto mais tempo o cliente tem pra pensar, pior a campanha. Pode confiar, é batata.

Havia uma escritora (talvez Rachel de Queiroz), que falava algo mais ou menos assim: “escrevo sempre até tarde da noite e pela manhã reviso tudo cuidadosamente. Depois, mando pro meu editor e só vejo o material de novo quando já está publicado. Se não for assim, os livros não ficam prontos nunca”.

Concordo com ela. Pense muito antes de fazer, mas depois, relaxe e deixe o trabalho existir. Em quase 100% dos casos a emenda costuma ser pior (bem pior) que o soneto.




Direto na têmpora: Noturno - Fagner

segunda-feira, outubro 08, 2007

Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência

Domingo, festa de aniversário de 1 ano do Dudu, filho do Peruca. Decoração linda, espaço bacana, muitos amigos, tudo excelente. Chega a trupe de animação, as crianças são reunidas e ficam todas sentadinhas.

De repente, ao som de "Smack my bitch up" do Prodigy (coincidentemente a única música deles que eu gosto), um dos carinhas começa a fazer um "malabaris" com faixas. Nesse momento percebo que a única criança em pé e dançando feito uma louca é a Sophia.

Como aos dois anos de idade ela será mandada para um Convento das Irmãs Carmelitas e só sairá aos 35 anos, nem liguei muito. Ou você acha que eu vou passar o resto das minhas madrugadas de rave em rave atrás da menina?




Direto na têmpora: Motorcrash - Sugarcubes

sexta-feira, outubro 05, 2007

Imaturidade gerencial

Trabalhei com um cliente que ficou conhecido na agência pelo seu “marketing de testosterona”. Esse termo, incrivelmente adequado, por sinal, referia-se ao hábito da criatura de, por causa de uma intuição ou palpite, demandar quantidades obscenas de trabalho, com prazos ridículos, para somente depois disso analisar a viabilidade ou não das ações. Confunde produção com produtividade e nunca ouviu falar em qualidade.

No entanto, existem ainda outras formas de imaturidade gerencial espalhadas pelo mercado com as quais, infelizmente, fui obrigado a conviver. A seguir, alguns exemplos do freak show que vem tomando conta do empresariado:

1) O dono da bola: a diretoria é formada por profissionais (presumidamente) competentíssimos em suas áreas. Todos eles pedem o trabalho, aprovam as soluções, acompanham a produção e alegram-se com os resultados. No entanto, basta uma palavra do Sr. X (normalmente um superior hierárquico) para que as convicções e o suor dos outros caiam por terra sem que nenhum protesto seja sequer feito.

2) O cheio de humores: mais uma vez o trabalho passou por todas as etapas, inclusive pelo Big Kahuna, que gostou de tudo. Certa manhã, após uma conversa sobre futebol com o porteiro do prédio, o Master Blaster tem o insight de que o caminho da campanha não deveria ser bem aquele e, para a estupefação geral, volta atrás de sua decisão e pede novos rumos mesmo com o material anterior já totalmente produzido e a 3 dias da veiculação.

3) O esquecido: anote e reenvie tudo o que foi decidido por email e solicite confirmação, colha assinaturas, tire foto da pessoa na reunião para comprovar sua presença, enfim, proteja-se, porque ali a palavra vale chongas e a frase “mas eu nunca soube disso” será ouvida freqüentemente.

4) O zoneado: é mais ou menos como atender um buraco negro. A informação importantíssima se perde, os layouts aprovados são rasgados com as alterações marcadas, o briefing muda e ele ACHA que passou, peças são aprovadas sem o mínimo de atenção e nada é muito confirmado. É aquele que depois da campanha veiculada costuma dizer “tenho quase certeza que pedi pra vocês mudarem esse texto” e fica olhando desconfiado para a agência por um bom tempo depois.

5) O misterioso: tem todas as informações, sabe exatamente o que quer, tem prazo e verba para a campanha, mas esconde cada uma das informações como se fossem um segredo de estado. Libera algumas aos poucos e espera que você adivinhe a maioria delas. Normalmente surge com algum dado que possuía desde o começo para contestar a campanha já nos momentos finais.

6) O escroto: acha que seu trabalho é encontrar erros ao invés de gerar acertos. Inventa problemas, cria obstáculos, nunca está satisfeito. Passa uma impressão de “extremamente exigente”, quando na verdade não passa de “extremamente incompetente e contraproducente”.




Direto na têmpora: Submission - Sex Pistols

Requiem

Atirada pela janela, a criança não deve ter se dado conta do que acontecia nem mesmo ao atingir as águas mal-cheirosas do ribeirão. A menina que a viu boiando achou que fosse uma boneca. O jovem que a tirou das águas podres já sabia que era um bebê. Os enfermeiros e médicos que lutaram por sua vida deram-lhe o nome Michele.

Seu pequenino cérebro ficou quase 5 minutos sem oxigênio e as águas fétidas providenciaram a infecção generalizada. Não tinha ainda um dia de vida e não pôde descobrir o que significa um colo de mãe ou um beijo do pai. Talvez não tenha sequer notado a corrente de amor e cuidado que se criou ao seu redor. A mãe achou que ela estava morta ao nascer. Agora está.

Hoje de manhã, Sophia pela primeira vez avisou aos pais que queria fazer xixi e conseguiu usar o piniquinho sem nenhum problema. E eu chorei. Tenho sentido uma vergonha imensa de ser gente.




Direto na têmpora: Plainsong – The Cure

quinta-feira, outubro 04, 2007

Acesso

O tapete na porta da empresa, logo ali no topo da escada, parece dizer “Bem-vindo”, mas o que eu ouço é apenas um tremendo “não”. Será que eu tento subir as escadas ou peço ajuda pra alguém que entre? Nunca sei o que fazer nessas horas. Olho em volta e reparo os buracos no passeio, o lixo largado no chão, a calçada estreita, a falta de rampas no meio-fio e começo a achar que já foi um milagre ter chegado até ali.

Nesse momento dois office-boys me vêem ali parado, indeciso e oferecem ajuda. Carregam a cadeira e pronto, menos um obstáculo. Manobro com dificuldade pelo suntuoso hall de entrada pessimamente sinalizado e chego ao elevador. A fila extensa não me dá preferência. Quando é a minha vez, entro e percebo que os números dos andares são altos demais para mim. Ainda se fosse no terceiro andar, tudo bem, mas no décimo-sétimo é impossível. Peço ajuda mais uma vez e estou no local da entrevista.

Com algum esforço atravesso o carpete felpudo e luto contra a porta estreita da sala. Em cima da hora. Poucos segundos depois meu nome é chamado. Dentro do escritório bem decorado converso com o homem de terno à minha frente. Elogia o meu currículo, minhas referências, impressiona-se com minha formação no exterior e inclusive pede algumas indicações de cursos.

Ele começa a falar de dinheiro, de oportunidades, diz que eu sou a pessoa certa para a empresa e é então que eu peço desculpas antes de interrompê-lo. Calmamente explico que me acho preparado para assumir o cargo, que só havia ouvido coisas boas sobre aquele local, que havia ido até ali com o firme propósito de não deixar aquela vaga escapar, mesmo não sendo a proposta mais rentável que havia recebido. No entanto, desde que chegara ali, as escadas, o hall de entrada, o elevador, o corredor do andar, a própria sala, tudo isso dizia que eu não era o homem certo para a empresa.

Agradeci a proposta, enfrentei o caminho de volta e fui aceitar a oferta que havia recebido de uma concorrente ainda naquela manhã, pensando em quando as pessoas vão descobrir que acessibilidade é, acima de tudo, uma via de mão dupla.




Direto na têmpora: The part you throw away - Tom Waits

Viva a Nube

Ontem houve um pequeno “convescote” na Gaz para comemorar sua mudança de nome para Nube. Passei rapidinho, mas tava boa a bagunça, com chorinho de primeira, petiscos nota 10, choppinho e a aquela cachacinha que não poderia faltar.

Bom mesmo foi ver que o Leo, o Pagode, o Peguinhas, o Pretão e o Renatinho continuam as mesma figuras bacanas de sempre. Montaram uma equipe jóis, fortaleceram a carteira de clientes e seguem aí, firmes pra muito sucesso.

Eu gosto de pensar que, como parceiro em alguns trabalhos, tenho um pouco a ver com essa história, então, fico feliz em dobro.

Parabéns, “pessoar”, e longa vida à Nube.


PS – Em homenagem a eles, o outro post de hoje é um texto que fiz pra um trabalho lá.




Direto na têmpora: Nobody’s fault but mine – Led Zeppelin

quarta-feira, outubro 03, 2007

Momento Guiñazú

Pra quem sentia falta do velho poeta uruguaio, segue aí:

Risos

Quando o riso mente
o ouvido acredita
demente



Mea Culpa

A culpa é minha e dela não abro mão.
Abençôo o dedo apontado,
bendigo a ofensa entre dentes,
recebo com abraços o escárnio.
De outros não me interessam os mínimos erros ou falhas.
Me bastam meus gordos equívocos,
imensos, redondos, inequívocos.
Acima de tudo, justos.
Justa.
É minha a bem-vinda culpa.





Direto na têmpora: Vidala - Rufo Herrera

terça-feira, outubro 02, 2007

Que nem louco

Apresentação do filme de 60” para o cliente, com presença de um diretor e os principais membros da equipe ligada ao lançamento do produto. Assim que acaba a primeira exibição, os aplausos irrompem. Sucesso total! Júbilo, êxtase, praticamente uma festa pagã. E mesmo assim eu só vou ficar tranqüilo quando o negócio estiver no ar. Pensando bem, provavelmente nem assim.




Direto na têmpora: Grow – The Posies

segunda-feira, outubro 01, 2007

Dubiedade

Questão de interpretação de texto.
Na frase "Maurilo, eu acho você melhor escritor do que redator", a intenção da criatura foi:
a) criticar o Maurilo como redator;
b) elogiar o Maurilo como escritor;
c) ambas as respostas acima.

Sim, eu sou uma pessoa em certa medida insegura, que precisa de elogios, então fiquei pensando que a frase poderia significar "você é um puta redator, mas como escritor, é genial, um novo Goethe".

Achei pouco provável e comecei a imaginar que talvez fosse "cara, você é bem fraquinho como redator, porque você não larga isso e continua com esses continhos seus? Vai que dá uns trocados".

Essa opção me pareceu mais provável, mas como eu tava tonto, resolvi dormir sem pensar mais no assunto e postar aqui hoje só pra encher o saco do Menino Monstro. Ele que se explique depois.




Direto na têmpora: Mother's Little Helper - Rolling Stones